quinta-feira, 27 de maio de 2010

Francamente, desenganaram-nos!

 
Dava pano para mangas este tema: o desengano.
Não vou tecer qualquer comentário, salvo que este texto de Joaquim Letria se fosse mentira dava-me vontade de rir, assim … passemos ao texto:

Desenganadinhos

ANDÁMOS ANOS a fingir que não sabíamos de nada. Quando não podíamos desmentir ou pretender que não era bem assim, fazíamo-nos fortes, dizíamos que já na Monarquia assim ocorrera, que na I República era melhor nem falar, que o Soares já dizia o mesmo, e que o Ernâni Lopes salvara a Pátria.
Medina Carreira e Ferreira Leite eram “A bruxa” e o “Velho do Restelo” e fingíamos confiar que Sócrates estava lá como os guarda-redes, para, em última instância, defender para canto e com grande aparato.
Abanávamos as caudas de satisfação ao escutarmos as vozes dos donos a dizerem que “é verdade que o desemprego subiu, mas comparado com o período homólogo do ano passado, subiu muito menos”, enchíamo-nos de orgulho ao ouvir que “Portugal não é a Grécia”, acrescentávamos logo que “isto não é terceiro mundo, Lisboa não é Mumbai”, batíamos palmas quando nos diziam que “os nossos males não só não cresciam, como até estavam a diminuir”.
Estávamos por tudo e adorávamos que nos mentissem, mesmo com aldrabices tão mal esgalhadas e com diversos figurões a inventarem coisas diferentes para nos dizerem o mesmo.
Éramos como os doentes terminais, desejosos de sermos enganados pelos médicos. Agora fomos à consulta da alemã e ficámos desenganadinhos. Sem apelo nem agravo.

Por Joaquim Letria in "24 horas" 27/05/2010 via http://www.sorumbatico.blogspot.com/

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