domingo, 4 de julho de 2010

A Minha Primeira Vez

  
Foi traumatizante.
Recordo-a como se fosse hoje.
Nunca tinha entrado numa casa daquelas. É, como todos sabem, uma casa frequentada apenas por homens.
Não tive coragem de ir sozinho. Fui, confesso, pela mão do meu irmão mais velho. Ele já conhecia aquilo!
Eu tremia que nem varas verdes! Como se não bastasse, mal entrei fui alvo de todos os olhares. Analisaram-me de alto a baixo para silenciosamente deferirem o veredicto embrulhado num sorriso “Tão novo ainda, coitado, nem sabe onde se meteu ...”. Foi isto que li naqueles rostos.
Eu tinha uma vã esperança. Antes de chegar a minha vez a 'loja' fechar. O porquê não interessava.
Estava eu nesses pensamentos e rezas quando o meu irmão me dá uma cotovelada e me segreda “É a tua vez”.
Empalideci e perdi a voz. Tinha as mãos pingando em água de tanto suor. Não perdi os sentidos, mas a coisa não esteve longe.
A criatura, que não me conhecia de parte nenhuma, começa com falinhas mansas e vai daí começa a fazer festinhas na cabeça!
Fiquei vermelho que nem tomate maduro! À beira da loucura!
Não me controlei e, pela primeira o confesso, desatei num pranto incontrolável. A criatura, um pouco aflita, bem me tentava acalmar: “Menino não chore. Isto não dói nada!”.
Resumindo, para a criatura terminar o serviço o meu irmão teve que ficar de pé, junto a mim.
Foi esta a minha primeira ida ao barbeiro para cortar o cabelo. Em Malanje. Angola.
  

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