sábado, 2 de julho de 2016

A canzoada


 Cão que ladra não morde, diz-se e com pouca razão. Andam por aí matilhas a ladrar com o único objetivo de nos desviar do caminho que queremos e a obrigarem-nos a optar por atalhos. É para isso que os açodam e, como ovelhas bem comportadas ou por medo, nós obedecemos.
Sobre este tema escreve Paulo Barriga no editorial do Diário do Alentejo de ontem.
Um pequeno excerto, com a devida vénia:
«Os jornais, as rádios e as televisões, pressionados como nunca dantes pelas audiências, vivem hoje do imediato, do direto, da ligeireza, da entretenga, do agora. A informação que hoje se reproduz, fragmentada e sem qualquer tipo de enquadramento, não passa de um osso sem carne que é abundante e repetidamente remastigado pelos diferentes membros da alcateia mediática. Cujos machos alfa, esganados, se perpetuam a todo o custo no topo da hierarquia. Nos últimos tempos tem-se assistido a um bailo que tem tanto de degradante como de revelador do estado pré-revolucionário em que persiste a imprensa pátria. Diretores de diferentes órgãos de comunicação social têm permutado de lugar, exclusivamente entre si, numa valsinha tão promíscua quanto perigosa para o que ainda resta de dignidade na imprensa portuguesa. E enquanto os líderes da canzoada vão trocando de cadeiras e disseminando a cartilha dos seus donos (sim, há outros donos disto tudo), as redações jornalísticas vão ficando reduzidas a estagiários, à precariedade laboral, à mansidão, ao silêncio. E ao medo. Que é uma bela denominação para dar hoje àquilo a que Salazar chamou censura e Caetano, até ao 25 de Abril, exame prévio.»
Foto: Imagem retirada do filme húngaro “Feher Isten” (Deus Branco)
  

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