segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Velho, o intruso

A velhice é um estágio da vida - o último - que todos nós, os que não partem antes, atingimos.
É também o momento em que nos tornamos empecilhos, nos tornamos "a mais" salvo a nossa parca reforma que é sempre bem-vinda a quem nos faz o favor de aturar.
Os mais novos questionam sempre por que carga de água os velhos não desaparecem mais cedo, quando deixam de ter utilidade. Esquecem-se ou desconhecem que também chegarão a velhos, um dia...
Há civilizações (algumas orientais, por exemplo) para quem os velhos são sinónimo de sabedoria, e como tal, respeitados; por cá são sinónimo de decrepitude.
Com a devida vénia, transcrevemos o post do Prof. A. Galopim de Carvalho no blogue De Rerum Natura:
«Mais do que a morte, assusta-me a solidão do velhos
Este flash de fim de vida, intensamente estampado nesta fotografia de Jorge Vieira [(?) esta foto é de Tony Luciani], cala bem no fundo da nossa sensibilidade, não pela sombra do companheiro que partiu, já liberto e descansado das dores do corpo e da alma, mas pela irreversível solidão da que ainda espera pelo começo dessa viagem.
Tudo dói na crueza desta imagem.
É a expressão no rosto da velha senhora, é o seu cabelinho ralo e desalinhado e o seu corpo, que se adivinha ressequido, escondido numa roupa que, por isso, ficou vários números acima.
São os sapatos e as meias, de quem não tenciona sair à rua.
É aquela mão agarrada ao canto da mesa e é, ainda a toalha, grande demais para a pequena mesa a dois, agora dobrada e a dizer que, estendida, serviu uma família inteira que se esfumou.
Pelos vincos bem marcados, esta toalha, talvez de linho, que ela própria bordou em tempos de jovem casadoira, a juntar ao enxoval, mostra que acabou de sair de um velho baú, com anos e anos de dobrada e adormecida ao lado de um saquinho de alfazema.»
A. Galopim de Carvalho in De Rerum Natura
  
 
Foto: Tony Luciani



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